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03/08/2017

Pico dos Marins

Saudações campistas à todos. Como vão?

Já há algum tempo um desejo começou a crescer em mim, a vontade de fazer trilhas ("trekking"), montanhismo com acampadas selvagens, sem a infraestrutura de um camping. Houveram algumas oportunidades para isso mas sempre alguma coisa aparecia e acabava adiando. Por um lado foi bom pois assim tive tempo para amadurecer, pesquisar, aprender, conversar com pessoas e entender que existem muitos fatores que influenciam na decisão de colocar uma mochila nas costas e partir rumo a uma aventura. 

Hoje, já próximo dos 40, não tenho mais disposição para me jogar de cabeça em algo que eu não conheço sem as devidas precauções. Não estou disposto a passar perrengues como fome, frio, dormir molhado, machucado, entre outros que são bastantes possíveis em uma jornada assim. Sou pai, marido, filho,  empresario e tenho minhas responsabilidades, por isso a paciência e dedicação empenhada em pesquisas e no preparo para a  prática desse esporte foram fundamentais.

Bom, depois de muita preparo surgiu a oportunidade e então a definição da primeira montanha, o PICO DOS MARINS. Uns dos locais mais visitados por praticantes desse esporte e porta de entrada para o montanhismo. Localizado na Cidade de Piquete no estado de São Paulo, o Marins faz parte da Serra da Mantiqueira, é a 26ª montanha mais alta do Brasil com seus 2420,7 metros de altitude. Lá de cima é possível ver de um lado o estado de São Paulo, com vista de quase todo o vale do paraíba e a Serra da Bocaina e do outro lado, as cadeias de montanhas que formam a Sul de Minas Gerais.

Pico dos Marins.
Uma certeza que eu tinha era de que a primeira vez eu queria ir com alguém experiente, um guia. Muitos tentaram me convencer de que para o Marins isso não era necessário, mas como eu já disse não estava disposto a correr riscos. Eu já vinha acompanhando pelo facebook o trabalho de muitos guias e empresas de turismo especializadas nesse seguimento e um sempre me chamou a atenção, o Chicão. Hoje depois da trip realizada tenho certeza de que a escolha foi certa. O Chicão é um cara simples, nascido e criado aos pés da Mantiqueira. Desde menino olhava para a montanha e dizia que queria chegar lá em cima. Um dia juntou em uma mochila umas tralhas e foi, na garra e na coragem e nunca mais parou. Hoje com seu 58 anos de idade e 40 de montanhismo, ele leva grupos quase que semanalmente para os principais picos e as travessias mais famosas da Mantiqueira e da Bocaina. Nessa ocasião o Chicão cobrou R$ 75,00 por pessoa.  Pra quem quiser conhecer melhor o Chicão é só procurar por ele no facebook: Fernando Sávio Chicão Romeiro. Ah! Não deixem de mencionar que você viram a dica aqui no site.  

A principio eu ia sozinho para me encontrar com o grupo de 10 pessoas em Cachoeira Paulista no dia 08 de Julho às 6 da manhã. Duas semanas antes da trip, um amigo, o Daniel, que em sua juventude já havia feito muito dessas aventuras resolveu se juntar a mim e então depois de muita conversa e preparativos saímos de Campinas no dia 07 rumo a Cachoeira Paulista para a casa do Chicão, o guia, onde iríamos pernoitar e sair cedinho no dia seguinte.

O Chicão além de cobrar valores justos, também oferece abrigo na sua casa na noite anterior e com banho quentinho para quem quiser, sem cobrar nada por isso. Bem, depois de aproximadamente três horas e meia de viagem chegamos na casa do Chicão. Do grupo todo apenas eu e o Daniel iríamos pernoitar por lá, o resto chegaria no dia seguinte bem cedinho para nos encontrar. Ficamos conversando até a meia noite, nos conhecendo falando sobre os equipamentos e usando da experiência do Chicão para diminuir peso desnecessário da mochila pois cada grama a menos faz diferença. Depois de um bom banho quente nos preparamos para dormir. Eu levei um saco de dormir extra e uma sacola com as roupas que usaria para dormir e para fazer a trilha no dia seguinte, assim não teria que mexer a mochila que já estava pronta.

Por volta da 2:30 da manhã eu acordei e não consegui dormir mais. O Daniel também estava acordado e fomos assim até as 4:30 quando decidimos que não adiantava mais ficar ali tentando dormir. Acho que era ansiedade ou adrenalina. O Chicão também acordou e ai ninguém mais dormiu. Começamos a nos preparar e logo o pessoal começou a chegar. 

As 6h saímos rumo ao Marins. O Chicão faz um esquema de carona solidária para otimizar os carros e ajudar quem eventualmente vem de ônibus, moto ou outra forma. Cada caroneiro paga R$ 30,00 para o dono do carro para ajudar na despesa de gasolina e do estacionamento no "refúgio base  Marins". No caminho paramos em Piquete para pegar o último integrante do grupo e fomos sentido a montanha. Subimos parte de uma serra que liga Piquete até o Sul de minas, no caminho vi placas que indicavam Itajubá e Santa Rita do Sapucaí. Em um determinado ponto da estrada saímos para uma rua de terra que nos levou por entre fazendas até o nosso destino, o refúgio base do Marins.

Visão do Marins (à esquerda), e do Itagaré (àdireita), da estrada.
Chegamos lá por volta das 8:30, o frio estava intenso. O lugar é uma propriedade rural com uma pequena infraestrutura para receber os visitantes. Um pequeno restaurante de comida caseira feita no fogão à lenha, banheiros e dormitórios para grupos, e estacionamento que é cobrado, o valor na ocasião: R$20,00 (as informações do lugar estão no final da matéria). Tomamos o café da manha no restaurante, café quentinho com pão na chapa e queijo quente, tudo ao lado do fogão a lenha para nos esquentar um pouco. O lugar estava cheio de carros e vans e um monte de gente se preparando para iniciar a trilha. Aos poucos os grupos foram saindo e as 9:00h iniciamos a nossa jornada.


O dia estava lindo, céu bem azul e sem vento. A trilha começa tranquila bem fechada e na sombra com bastante vegetação. Esse trecho dura uns 15 minutos e logo chegamos à uma estradinha de terra onde já começa a subida e ao poucos a vegetação fechada vai se abrindo e o sol começa a predominar. Mais alguns minuto por essa estrada e entramos em uma outra trilha já com bastante ponto de subidas forte que nos levou  até o primeiro ponto de parada, o morro do careca. Ali demos um rápido descanso e aproveitamos para tirar as primeiras fotos da vista. Nesse ponto já é possível ter uma bela visão do vale do paraíba e uma noção da altitude que estávamos. A nossa frente a montanha e ao longo dela dava pra ver os grupos que estavam a nossa frente subindo pela trilhas como se fossem formigas.



Vale do Paraíba visto do Morro do Careca.


Todo o caminho é demarcado com setas pintadas em branco nas pedras para orientar aqueles que vão por conta própria. Após uma hora e meia de trilha aproximadamente chegamos ao segundo ponto para descanso. A partir dai a subida começa a ficar mais íngreme e a trilha entre a vegetação rasteira passa a dar mais espaço para a subida em pedras. Nessa segunda parada podemos ver a pedra do "Mutley", vocês lembram? O cachorro do Dick Vigarista.



Segunda parada

Depois da terceira parada o caminho passa a ser predominantemente nas pedras com muitos trecho onde as mão passam a ser fundamentais e em algum até mesmo um pouco de escalada.


Conforme nos aproximávamos do topo, haviam algumas áreas destinadas à campismo. Essas áreas são demarcadas com placas. Parte do nosso grupo optou por acampar em um local antes da última subida que chegava ao cume.


Acampamento da turma que fico antes do cume.

Eu sou um cara bem sedentário, não pratico esportes, não faço academias nem caminhadas regulares. Posso dizer que mesmo com uma carga de 15 kg nas costas eu não senti fadiga, dificuldades ou respiratórias, mas após a 4 horas de subida intensa minha coxa direita deu sinais de exaustão. Precisei para um pouco dar uma descansada, fazer uns alongamentos e depois continuei com muito cuidado com o auxilio do bastão de caminhada e forçando mais a perna esquerda, tudo para evitar um machucado mais grave como um estiramento que poderia comprometer toda a viagem. Quando chegamos à última subida que tinha uns 50 metros mais ou menos, minha coxa não parava de tremer. Nessa hora o Daniel e o Fábio, outro integrante do grupo, disseram para eu tirar a mochila e eles carregaram ela pra que eu pudesse terminar e conquistar o cume.


Ao todo, levamos 5 horas para subir. Um bom tempo considerando que estávamos em grupo e com peso nas costas. Chegamos ao cume às 14:00h e já haviam bastante barracas na parte superior. Conseguimos um bom espaço e montamos as nossas barracas bem rápido pois ainda tinha muita gente por chegar. Feito isso o próximo passo foi comer e depois confraternizar, conhecer quem estava lá e jogar conversa fora já que apreciar a paisagem não era possível devido a algumas nuvens que fecharam por completo a nossa visão. Conforme o corpo foi esfriando pudemos sentir mais a temperatura e tivemos que nos agasalhar.

Nosso acampamento no Marins.



Nossa casa na montanha. Pico dos Maríns.
Eu e Daniel.



Barraca montada, barriga cheia, sem vista para apreciar, e cansados, só nos restava descansar um pouco enquanto esperávamos a noite chegar. Devemos ter dormido umas 2 horas e quando acordamos já estava escurecendo, o frio estava intenso e o céu estava limpo com poucas nuvens. À baixo de nós a visão de todo o vale do paraíba e suas cidades iluminadas e a cima uma fantástica lua cheia iluminado tudo como um grande holofote. Momento de contemplação.

As luzes da cidade - Uma das cidades do Vale do Paraíba.

Por volta das 19:00 os termômetros já marcavam -1º e um vento bem forte começou a soprar sobre nós fazendo com que a sensação térmica fosse bem mais baixa. Aproveitamos para confraternizar mais um pouco com quem estava por lá e dar aquela mãozinha para aqueles que estavam com as barracas quase voando.

Vou fazer uma pausa para reforçar a importância da pesquisa e de se preparar adequadamente. Não é preciso gastar fortunas para comprar os melhores equipamentos, mas quem vai para o alto de uma montanha onde as condições climáticas são mais severas e mudam rapidamente é muito importante ter um equipamento que suporte e que te de segurança, e sim, é bem possível fazer isso com pouco investimento. Porem muitos que estavam lá no pico estavam com barracas inadequadas e em alguns casos tiveram que desmontar as suas barracas para dormir nas do amigos.
O vento estava muito forte, ficou um pouco complicado  acender o fogareiro para fazer outra refeição e fazer isso dentro da barraca estava muito perigoso pois o vento jogava a barraca de um lado para o outro, então o jeito foi fazer um lanche.

Apesar do cochilo da tarde o cansaço ainda estava grande e o vento extremamente forte não deixava o clima muito agradável para ficar fora da barraca e então por volta das 21:00 resolvemos deitar. O vento soprou forte a noite toda e confesso que em muitos momento fique preocupado e apreensivo devido à força do vento, mas pensava que se o Chicão estava roncando na barraca ao lado, não havia motivos para me preocupar. Não sei qual foi a temperatura mínima registrada naquela madrugada, imagino que deva ter chegado à uns -4º, sem considerar a sensação térmica. Em muitos momentos a barraca baixava a ponto de bater na nossa cara, mas estávamos com roupas adequadas e sacos de dormir apropriados e isso nos permitiu ter uma noite de sono bem quente e tranquila. Na manha seguinte, amigos que estava próximos e tinham equipamento para calcular a velocidade do vento e disseram que chegou a 50 km/h.

Quando acordamos o dia já estava nascendo e finalmente tivemos oportunidade de presenciar um show da natureza, um espetáculo de beleza e força. A baixo do nível da montanha o vento forte e as nuvem faziam ondas que depois desciam em direção ao vale, e a cima um espetáculo no céu com uma mistura de cores e degradês que misturavam amarelo, laranja e infinitos tons de azul e claro o sol completando o cenário perfeito. Mais contemplação.

Foto de Renan Santos.
Foto de Renan Santos.
Foto de Renan Santos.
Foto de Renan Santos.
Foto de Renan Santos.
Foto de Renan Santos.



Tomamos um café, desmontamos o equipamento, tiramos fotos, nos despedimos da vista e por volta das 9:00 iniciamos nossa descida que foi mais rápida que a subida, entorno de 4 horas, afinal para baixo todo santo ajuda. O Chicão parecia que estava com pressa de chegar no refúgio base e almoçar no restaurante, então não deu moleza pra gente. Chegamos ao campo base as 13 horas e uma deliciosa refeição bem caseira feita em fogão a lenha nos esperava.

Café da manhã Nutella!!!





Como eu disse mais a cima essa foi minha primeira trilha em montanha e eu sou um cara bem sedentário por isso deixo aqui um relato fiel para que aqueles que estão pensando em praticar essa modalidade de esporte possam se preparar. Todos um dia já ouviram alguém dizer que subir  cansa, mas descer destrói. Pois é verdade. Tive uma dificuldade na subida com já relatei, mas na manhã seguinte estava tudo bem e eu estava disposto para descer. Porem, o trecho final da descida entre o morro do careca e o refugio base as minhas perna já não me obedeciam, os paços estavam curtos e lentos e nesse momento o bastão de trilha foi crucial para me dar apoio e estabilidade. Naquele dia não senti dor alguma mas nos dias que se seguiram senti muita dor nas pernas e dificuldade para andar mesmo tomando remédios para ajudar. Por isso fica a dica: façam exercícios, prepare-se!!!


Missão cumprida. Sensação de superação e satisfação. Muitos sentimentos passaram dentro de mim desde os dias que antecederam a trilha e até alguns dias depois dela. Alguns desses sentimentos precisaram de tempo e reflexão para serem compreendidos. Muitas lições foram aprendidas mas em resumo, foi incrível e com certeza outras aventuras como essa virão. Meu agradecimento especial ao Chicão e a todos os amigos do grupo que fizeram parte dessa aventura comigo.

A turma: Claudio, Chicão, Luiz, Alessandro, Daniel, Luiz, Alessandra, Ryan, Renan, Claudinei e eu.


Guia:
No facebook ou messenger: Fernando Sávio Chicão Romeiro

Refúgio Base Maríns
Celular: (12) 99109-4527 ou 99799-7524
No facebook ou messenger: Base Marins

7 comentários:

  1. Eita, um dia crio coragem para encarar uma montanha dessa.

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  2. Sensacional! Que aventura para uma estreia! Babei pelas fotos e panoramas. Parabéns, Ricardo.

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  3. estou de féria e pretendo conhecer esta bela montanha coma familia logo

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    1. Olá João, como vai? Obrigado por visitar nosso blog.
      Marins é muito bonito acredito que você vão gostar. Minhas dicas são preparo físico e equipamentos adequados. No mais é curtir o caminho e o visual.
      Um forte abraço.

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  4. Show...já fiz a Serra Fina e pretendo fazer o Marins...parabéns!!

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  5. Olá, boa tarde.
    muito boa a descrição da aventura.

    sabe me dizer o horário de funcionamento do estacionamento?
    Obrigado.

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